Thursday, September 27, 2007


Lembro-me de chorar até os olhos doerem, lembro-me da garganta a queixar-se com o sofrimento que me percorria as veias e que faziam de mim aquilo que sou. Aquilo que sou no meu estado mais cru. Nu de tudo o que não é meu e que pensava que fosse. Tinha apenas o ruído dos passos das pessoas na rua e chilrear dos pássaros que imaginei reinarem naquele jardim para me acompanhar. Como uma flor por desabrochar, ali fiquei sabendo que fechando os olhos não encontraria paz e se a procurasse ela fugiria de mim. Mais vale ficar preso à quietude do momento, esperando que ele passe, transladando com ele o sentimento de estar só. O sentir que a minha existência acaba na ponta dos meus dedos e do meu nariz que nada vale dizer ou fazer, que tudo o resto nos é alheio mesmo que possa interagir connosco pontualmente. Respirar é apenas mais um hábito ao qual me acostumei. Assim como dar os primeiros passos, dar os últimos também não se esquece. Quero pertencer ao mundo da forma que ele nunca me pertenceu. Não a este mundo cinzento que nos destrói. Um idílico lugar onde consiga alcançar a paz que não conheço, onde possa acabar apenas nas pontas dos dedos de qualquer um a que dê a mão. Não me resta esperar. Porque esperando o silêncio invade o meu horizonte mostrando-me de que material é que sou feito. Porque esperando pouso a respiração no chão, largando-a como se larga um pardal que nos vem comer à mão.


Pché 07

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