Wednesday, June 25, 2008

Adormece


Hoje é quarta-feira. Que tem esta feira que se diz a quarta de uma lista de sete tão diferentes entre si? Quem aponta para o letreiro desta rua e se ri mostrando o palato? Que força é esta que te faz querer apanhar os pingos da chuva dentro de uma poça de água reinada por gordas euglenas? Qual o tamanho da dor que aponta o caminho que acabaste de enjeitar?
Palavras vãs, sem significado, como um suspiro debaixo de água. Quando vires a sombra debaixo do teu nariz saberás que é meio dia num sitio qualquer e que frases como esta são puro desperdício de contínuos piscares de olhos. Quando adormeceres deixas de verbalizar neste tempo, acabas por preferir elevares-te com soslaio de ti mesmo. Depois abandonas a flanela manchada pelo calor que libertaste sem olhar em busca de uma lembrança fugidia. Desfocas a simplicidade das horas, transformando a exclamação do tocar na podridão do sentir. Queres perguntar-me em que direcção deves seguir? Dizes que persegues o inseparável, que sentes saudades dele desde que ele te abandonou. Segue então em frente de olhos fechados e respiração pausada. Quando o encontrares desdiz-lhe o nome e volta donde vieste, agora já de olhos abertos, baços do nevoeiro que te fará companhia.
Adormece então aqui que eu continuarei a dizer coisas assim sem sentido sempre com o mesmo tom, como uma velha canção de embalar. Amanhã já não lembrarás desta voz, nem do tormento que ela tenta acalmar. Estou aqui, fico aqui. Solta então o sono afundando-te num prado de sonhos delicados.

Pché 08